Segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Rio Paraguai repete o segundo menor nível da história

Medição feita diariamente pela Marinha mostra que nesta quarta-feira (9) o rio chegou a 60 centímetros abaixo de zero. Se recuar mais dois, será o mais baixo registrado em 124 anos

Publicado em: 09/10/2024 às 09h47

Neri Kaspary

Bancos de areia apareceram em diferentes pontos na região de Corumbá, mas em alguns trechos o rio ainda tem 5 metros de profundidade

Depois de ficar estacionado em 59 centímetros abaixo de zero durante quatro dias, o nível do Rio Paraguai na régua de Ladário repetiu nesta quarta-feira (9) seu segundo menor nível da história, chegando a 60 centímetros abaixo de zero. Porém, a tendência é de que continue recuando e chegue ao menor nível já registrado.

A medição, feita diariamente pela Marinha, começou em 1900, há 124 anos, e algo parecido havia ocorrido nos dias 16 e 17 de outubro de 2021, quando o rio também atingiu 60 centímetros abaixo de zero. Depois daqueles dias, em decorrência de chuvas no final de setembro e começo de outubro, começou a subir.

Pior do que o nível desta quarta-feira ocorreu somente 1964, quando chegou a 61 centímetros abaixo de zero. Agora, porém, deve continuar recuando pelas próximas semanas e superar aquele recorde negativo.

O nível está recuando em quase um centímetro por dia e a tendência é de que ainda nesta semana supere a marca histórica de 1964. Naquele período, o Pantanal enfrentou estiagem parecida com a que está ocorrendo nesta década, com anos seguidos de pouca chuva, segundo o pesquisador Carlos Padovani, da Embrapa Pantanal.

E, apesar da escassez de chuvas em setembro e na primeira semana de outubro, o pesquisador Carlos Padovani, que fez doutorado na USP sobre os ciclos de cheia no Pantanal, não se arrisca a fazer um prognóstico sobre o nível mínimo que o rio pode alcançar neste ano.

De acordo com o pesquisador, que acompanha o comportamento do Rio Paraguai há quase três décadas, não é possível fazer uma projeção simplesmente porque nunca ocorreu seca parecida na bacia pantaneira.

E, para fazer projeções minimamente embasadas, é necessário que se tenha parâmetros e dados estatísticos do passado, o que não existe. Porém, explica Padovani, nível só começa a subir semanas depois que ocorrem chuvas significativas, principalmente na região sul de Mato Grosso. E isso não ocorreu até agora.

Desde outubro do ano passado as chuvas estão em torno de 40% abaixo da média em toda a bacia pantaneira. Por conta disso, o nível máximo do principal rio da bacia pantaneira chegou a apenas 1,47 neste ano, caracterizando-se em uma das menores cheias desde que começaram as medições.

Em 2023, para efeito de comparação, a altura máxima chegou a 4,24 metros na régua de Ladário, que serve como referência para medição das cheias e estiagens no Pantanal.

Quando o nível passa dos 4 metros em Ladário o rio começa a sair do leito e a inundar parte da planície. A maior cheia que se tem registro ocorreu em abril de 1988, quando o rio chegou a 6,64 em Ladário.

TRANSPORTE


O baixo nível do rio, além de evidenciar a crise climática pela qual o hemisfério está passando, traz prejuízos ao transporte pela hidrovia, principalmente de minérios extraídos em Corumbá e destinados à exportação.

O transporte está praticamente todo suspenso desde julho e para que seja retomado, é necessário que o nível ultrapasse a marca de um metro em Ladário, o que é 1,6 metro acima daquilo que está nesta quarta-feira. Caso ocorram chuvas dentro da média, isso deve ocorrer somente em meados de janeiro do próximo ano, assim como ocorreu no final de 2021 e começo de 2022.

Por conta da falta de água, o transporte de minérios e grãos caiu em quase 52%% neste ano, conforme dados da Agência Nacional de Transporte Aquaviário (Antaq).

Entre janeiro e julho do ano passado foram despachados 5,4 milhões de toneladas dos portos de Ladário, Corumbá e Porto Murtinho. Neste ano, foram apenas 2,6 milhões de toneladas.