Segunda-feira, 16 de setembro de 2024
Discurso populista é o último refúgio para Lula DA SILVA para recuperar popularidade
Discurso populista é o último refúgio para Lula recuperar popularidade
Publicado em: 13/07/2024 às 06h23Adotar uma postura intransigente na defesa de programas sociais e do consumo das camadas mais pobres da população, ao mesmo tempo em que se posiciona como um forte crítico da “ganância do sistema financeiro” e dos juros altos estabelecidos pelo Banco Central (BC), parece ter rendido ao presidente Lula da Silva (PT) os resultados desejados. Além disso, criticar decisões polêmicas de seu próprio governo, como a taxação das blusinhas importadas e a exclusão da carne da cesta básica sem impostos na reforma tributária também faz parte dessa estratégia.
Preocupado com a queda de popularidade neste ano, Lula intensificou o discurso populista nas últimas semanas, caracterizado por declarações agressivas todos os dias. Analistas consultados pela Gazeta do Povo avaliam que essa tática pode ter sido eficaz, conforme demonstraram a pesquisa mais recente, que indica uma melhora na aprovação popular do presidente da República.
A mais nova rodada da pesquisa Genial/Quaest, divulgada na quarta-feira (10.07), mostra que 54% dos eleitores aprovam o trabalho do presidente, especialmente entre o público de menor renda e escolaridade. Esse resultado representa um aumento de quatro pontos percentuais em relação à pesquisa anterior, realizada em maio, sendo o melhor desempenho nos últimos sete meses.
Entre 5 e 8 de julho, a pesquisa registrou que a desaprovação ao trabalho de Lula caiu de 47% para 43%, o menor índice desde dezembro de 2023. As melhorias foram observadas em quase todas as segmentações, destacando-se entre mulheres (de 54% para 57%), pardos (de 54% para 59%) e pretos (de 56% para 59%), eleitores de 35 a 59 anos (de 50% para 56%), com escolaridade até o Ensino Fundamental (de 60% para 65%) e renda familiar mensal de até dois salários-mínimos (de 62% para 69%).
Mais pobres percebem uma melhora na economia e gostam das falas de Lula DA SILVA
A pesquisa também revelou uma melhoria significativa na percepção da economia entre os eleitores de menor renda. Para aqueles com renda familiar mensal de até dois salários-mínimos, a avaliação positiva subiu de 33% para 37%, o melhor resultado desde dezembro (39%). A porcentagem dos que percebem uma piora caiu de 28% para 24%.
O levantamento avaliou ainda o conhecimento e aprovação de seis programas do governo. O Farmácia Popular lidera com 86% de aprovação, seguido pelo Bolsa Família, que subiu quatro pontos percentuais, para 80%. O Desenrola, que facilita a renegociação de dívidas, tem o apoio de 73%. O Pé de Meia, que incentiva financeiramente estudantes do Ensino Médio público, foi o programa que mais cresceu, aumentando seis pontos percentuais, para 60%. A propaganda oficial e os discursos de Lula em torno desses programas também se intensificou nos ultimos meses.
A Genial/Quaest(?) ouviu 2 mil pessoas entre 5 e 8 de julho, em 120 municípios brasileiros. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. O nível confiança é de 95%.
Na pesquisa anterior, de maio, foram ouvidas 2.045 pessoas, em 120 municípios brasileiros, entre os dias 02 e 06 daquele mês. A margem erro foi de 2.2 pontos percentuais. O nível de confiança era de 95%.
Especialistas mostram ceticismo em relação à recuperação da popularidade de Lula
Para o cientista político Leonardo Barreto, diretor da consultoria I3P, o dado mais expressivo é que Lula interrompeu uma sequência de quedas e recuperou o patamar de aprovação de dezembro de 2023 (54%). Barreto destaca que, apesar das variações, não houve uma mudança drástica no sentimento da população, indicando uma constância nas condições econômicas e sociais percebidas pela população.
Barreto ressalta que Lula enfrentou desafios importantes, como o desastre climático no Rio Grande do Sul, mas conseguiu melhorar sua aprovação entre públicos já considerados como parte importante de seu eleitorado, como mulheres e pessoas de baixa renda.
A melhora de imagem entre os evangélicos também é notável, com a desaprovação caindo 10 pontos, de 62% para 52%, após o presidente adotar uma postura mais conservadora e criar uma campanha de comunicação voltada para esse público. O falatório populista do presidente, ignorando sua responsabilidade por aquilo que critica, parece ter chegado aos ouvidos certos.
A pesquisa Genial/Quaest de julho também questionou se os entrevistados concordam com as opiniões de Lula em diversos assuntos. A maioria, 84%, concorda que as carnes consumidas pelos mais pobres devem ser isentas de impostos. Além disso, 87% consideram que os juros no Brasil são muito altos, alinhando-se ao discurso de Lula. A necessidade de revisar o Cadastro Único para identificar irregularidades também tem amplo apoio (83%).
Leandro Gabiati, da Dominium Consultoria, aponta que muitos entrevistados desconhecem as recentes declarações de Lula, e, por isso, expressa dúvidas sobre as razões da recuperação de popularidade. Ele acredita que a questão da carne na cesta básica desonerada é mais perceptível para a população do que críticas ao Banco Central, por exemplo.
Investidas junto ao público evangélico surtiram efeitos em setores do segmento
A tentativa de aproximação com os evangélicos parece estar surtindo efeito, com a desaprovação caindo de 58% para 52% em julho em comparação com o levantamento de maio. A aprovação entre esse grupo, tradicionalmente apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), variou de 39% para 42%. O governo tem trabalhado para reduzir o desgaste com os evangélicos, enviando cartas de apoio e promovendo diálogos por meio de ministros e de líderes religiosos aliados ao Palácio do Planalto.
A melhora na aprovação de Lula entre os evangélicos é atribuída a vários fatores, incluindo a aproximação com pastores e líderes religiosos, influências nos discursos de ministros e articulações com setores evangélicos mais abertos ao diálogo. Para os especialistas, é importante notar que os "evangélicos" representam um grupo diverso, não coeso, e a abordagem do governo precisa considerar essa diversidade.
Para o cientista político Ismael Almeida, Lula ainda enfrenta dificuldades para acessar a maioria representativa do público evangélico, ressaltando que "o presidente não deveria se animar muito" com os resultados positivos das últimas pesquisas. Ele diz ser necessário uma análise mais precisa sobre a variação de opinião dos entrevistados classificados como "evangélicos" na mais recente edição da pesquisa Quaest.
Na sua opinião, Lula ainda enfrenta dificuldades para acessar a maioria representativa do público evangélico. "Em geral, pastores e líderes mais dispostos a dialogar com o governo representam uma parcela ínfima do segmento", afirmou. Por essa razão, Almeida acredita que o presidente não deveria se animar excessivamente com os resultados recém-divulgados.
Ele lembra recente entrevista para o jornal Folha de S. Paulo da vereadora de Goiânia Aava Santiago (PSDB), evangélica e apoiadora da eleição de Lula nos dois turnos de 2022, na qual afirma que o governo está patinando por não alcançar a maioria dos fiéis.
Apontada como nova líder nacional da esquerda evangélica, ela, que é filha de pastores, chegou a emocionar o petista em evento religioso que o apoiou, em São Paulo, em outubro de 2022. “Lula não está chegando à base [dos evangélicos]”, afirmou ela. “Ele está conversando com os magnatas da fé.”
Outra pesquisa mostra recuperação gradual de popularidade em julho
A recente pesquisa Ipec também mostra uma melhora na avaliação do governo de Lula, com a aprovação subindo para 37% e a desaprovação caindo para 31%. A confiança no presidente também aumentou, indicando uma recuperação gradual de sua popularidade.
Com uma margem de erro de dois pontos percentuais, a pesquisa do Ipec entrevistou 2 mil pessoas entre os dias 4 e 8 de julho, em 129 municípios, refletindo um cenário de ligeira recuperação para o governo do petista. O nível de confiança do levantamento é de 95%.