Quinta-feira, 28 de março de 2024

Governo Federal eleva expectativa de inflação em 2022 de 6,5% para 7,9%

A taxa prevista de 7,9% para o IPCA supera a meta a ser perseguida pelo Banco Central

Publicado em: 20/05/2022 às 07h36

Folhapress

O Ministério da Economia elevou a expectativa de inflação deste ano de 6,55% para 7,9% e manteve a projeção para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para 2022 em 1,5%.

As projeções do ministério divulgadas na quinta-feira (19.05) estão no Boletim Macrofiscal, atualizado bimestralmente pela SPE (Secretaria de Política Econômica). Os dados anteriores haviam sido anunciados pela pasta em março e são revisados periodicamente porque servem de referência para ajustar a execução orçamentária.

A taxa prevista de 7,9% para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) supera a meta a ser perseguida pelo Banco Central. O valor fixado pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) para este ano é de 3,5% -com 1,5 ponto percentual de tolerância para mais ou para menos.​

Mais cedo, em evento em São Paulo, o ministro Paulo Guedes (Economia) disse que o Brasil já saiu "do inferno" ao se referir à inflação. "Nós já saímos do inferno, conhecemos o caminho e sabemos como se sai rápido do fundo do poço", afirmou.

"A principal motivação dessa revisão foi a surpresa da inflação no primeiro trimestre, principalmente dos administrados. Também teve impacto maior dos alimentos, olhando para o primeiro quadrimestre do ano", disse o subsecretário de Política Macroeconômica da SPE, Fausto Vieira.

Os valores do governo para inflação estão em linha com os números esperados pelo mercado. Mas o boletim Focus, que traz previsões feitas por analistas e reunidas pelo BC, está defasado. Devido à greve dos servidores da autarquia, a última pesquisa foi divulgada no dia 29 de abril. Nela, os economistas estimaram que o IPCA deve avançar 7,89% neste ano e 4,10% em 2023.

Para o próximo ano, a projeção de inflação do Ministério da Economia subiu de 3,25% para 3,60%. A percepção de piora do cenário inflacionário tem se difundido entre os analistas do mercado financeiro.

O Credit Suisse vê o IPCA subindo 9,8% neste ano, enquanto a XP Investimentos revisou sua projeção para 9,2%. Em um levantamento feito pela corretora, de 13 a 15 de maio, com 45 economistas e investidores, a mediana das estimativas indicava a inflação para 2022 em 8,80%.

O BC já admite alta probabilidade de novo estouro da meta de inflação. Se a projeção se confirmar, o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, deverá escrever uma nova carta ao ministro da Economia explicando as razões para o descumprimento do objetivo pelo segundo ano consecutivo. ​A inflação fechou 2021 em 10,06%.

A estimativa da pasta para o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) subiu de 6,7% para 8,1%. Esse índice é usado na correção do piso nacional do salário mínimo e de outros benefícios sociais. Sobre essa base de cálculo, o salário mínimo que hoje é de R$ 1.212 tende a ser corrigido em 2023 para R$ 1.310, caso não haja ganho real.

Já a projeção da SPE para o IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna) saltou de 10,01% para 11,40%. Esse índice tem uma abrangência maior para medir a alta dos preços, pois engloba também o setor atacadista e a construção civil.

Como resposta à inflação em alta, a escalada dos juros no Brasil já completa mais de um ano no Brasil. No dia 4 de maio, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC elevou a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, passando de 11,75% para 12,75% ao ano. Para a próxima reunião, em junho, sinalizou uma provável alta adicional de juros de menor magnitude. Isso significa que o ciclo de aperto monetário ainda não terminou.

O aumento da Selic é um dos fatores que ajuda a frear a atividade econômica do País. Mas, apesar da inflação galopante e de uma política monetária em níveis restritivos, houve estabilidade na conta do governo para a expansão econômica em 2022.

De acordo com o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Pedro Calhman, a projeção de alta do PIB de 1,5% em 2022 leva em conta os efeitos do aperto monetário implementado pelo BC. "Essa projeção já considera o impacto das condições financeiras mais restritivas, com a desaceleração leve do crescimento no segundo semestre e manutenção ao longo de 2023", afirmou.

Dada a defasagem da política monetária, os efeitos sobre a economia devem ser sentidos com mais força no próximo ano. No Boletim Macrofiscal, a pasta destaca que "a melhora no desempenho do PIB brasileiro tem ocorrido pela retomada no setor de serviços e ampliação dos investimentos, o que tem se refletido na robusta recuperação do mercado de trabalho".

Segundo Guedes, os dados confirmam as expectativas do governo de que o Brasil continua em recuperação econômica. "As previsões de crescimento [do mercado] estão sendo revistas para cima e convergindo para a nossa última estimativa, em torno de 1,5%. Ainda acho que podemos ter surpresas positivas ao longo do ano", afirmou.

Com o crescimento da atividade econômica nos últimos meses, a estimativa do mercado vem se aproximando do desempenho calculado pelo governo. De acordo com o último Focus divulgado, em abril, os economistas esperavam avanço do PIB em 0,70% neste ano.

Mas dado o hiato de publicações do BC, o número não reflete as atuais expectativas dos analistas. Segundo o levantamento da XP Investimentos, na última semana, a projeção mediana de crescimento é de 1,10% em 2022. A corretora, por sua vez, elevou suas estimativas e prevê alta de 1,6% para o PIB deste ano.

A IFI (Instituição Fiscal Independente) revisou para cima as suas projeções, esperando crescimento econômico de 1%, enquanto o Bank of America subiu em 1 ponto percentual seu prognóstico para a expansão da economia, a 1,5%.

Guedes chegou a criticar os analistas do mercado financeiro pelo que considerava um "excesso de pessimismo" e tem repetido que o Brasil "está condenado a crescer". Para ele, o mercado estava subestimando o potencial de crescimento do país em 2022.

Ao comentar os dados divulgados nesta quinta, o ministro também destacou o desempenho fiscal brasileiro. "O desempenho fiscal continua forte, bastante melhor que o desempenho fiscal de todos os países lá fora, tanto G7 quanto emergentes", disse. "O Brasil continua exibindo equilíbrio fiscal, e o mais interessante é que estamos nos recuperando todos juntos", continuou.

De 2023 em diante, as estimativas do governo para o PIB permaneceram em 2,5%.

"As projeções de crescimento para 2022 e 2023 fundamentam-se em dados positivos do mercado de trabalho e em aumento de projetos do investimento privado nos próximos anos em decorrência de privatizações e concessões", afirma o boletim.

Mas pondera que existem riscos a serem monitorados, como a guerra na Ucrânia e seus impactos na economia brasileira e no crescimento global. Entre os efeitos, cita "possíveis quebras de cadeias globais de valor afetando a oferta, deterioração das condições financeiras e efeitos do conflito sobre o comércio internacional e o balanço de pagamentos do Brasil".

"Além disso, riscos de eventuais efeitos remanescentes da pandemia sobre crescimento econômico e inflação continuam sendo avaliados", acrescenta.