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CAARAPÓ - MS, terça-feira, 29 de abril de 2025


Governo LULA DA SILVA perdeu chance de privatizar Correios e agora prejuízo direto

Governo perdeu chance de privatizar Correios e conta agora pode ir para contribuinte

Publicado em: 13/04/2025 às 07h20

Rose Amantéa

Os Correios passam por uma grave crise financeira e administrativa, com risco de insolvência. A situação se agrava a cada dia: em despejos de imóveis alugados, atrasos no pagamento a fornecedores e inadimplência com o plano de saúde dos funcionários.

A estatal registra prejuízo pelo terceiro ano consecutivo. O último lucro ocorreu em 2021 (R$ 2,3 bilhões, recorde histórico), sob a gestão de Jair Bolsonaro (PL).  A privatização da empresa foi apoiada por ele e referendada pelo Congresso. Contudo, o presidente Lula da Silva (PT) reverteu a decisão ao assumir o governo, retirando a empresa da lista de privatizações.

Os prejuízos se acumulam na atual gestão, que é liderada por Fabiano Silva dos Santos – integrante do grupo Prerrogativas, formado por advogados alinhados ao governo que contestaram a Operação Lava Jato. O resultado negativo foi histórico no ano passado; R$ 3,2 bilhões.

As perdas continuam neste ano. No primeiro trimestre foram de R$ 2,2 bilhões, com R$ 424 milhões perdidos apenas em janeiro. Conhecido por “churrasqueiro do Lula” e Indicado após a suspensão de parte da Lei das Estatais – que possibilitou as indicações políticas para cargos em estatais), Santos enfrenta desgastes devido aos problemas nos Correios.

Antes de assumir o cargo foi advogado do Postalis (fundo de pensão dos funcionários), e de Antônio Carlos Conquista, presidente do fundo durante o governo de Dilma Rousseff (PT).

Caso a insolvência se confirme, a União poderá ter que injetar recursos nos Correios, tornando-a dependente do Tesouro. O custo seria arcado pelo contribuinte.

Associação de funcionários dos Correios alerta para risco de "pré-insolvência"

 

A deterioração financeira ganhou destaque em outubro, com a divulgação de um documento interno revelando problemas e anunciando um teto de gastos. Desde então, surgiram informações de mais de 200 ações de despejo contra unidades dos Correios por inadimplência em aluguéis.

Nas últimas semanas, hospitais suspenderam o atendimento ao plano de saúde dos funcionários (Postal Saúde). A operadora, com 200 mil beneficiários, deixou de receber repasses dos Correios desde novembro, acumulando uma dívida de R$ 40 milhões. Anteriormente, os repasses mensais eram de R$ 170 milhões.

A suspensão do atendimento gerou manifestações das entidades representativas. A Associação dos Profissionais dos Correios (Adcap) alertou para uma "pré-insolvência", com risco de atraso nos salários, e classificou a situação como "crítica”.

A Adcap atribui a crise à "nomeação de lideranças despreparadas, pautadas por critérios políticos" e informa que tenta agendar reunião com o presidente dos Correios.

"Dados que estarão refletidos nas contas anuais de 2024 mostram que os Correios gastam mais do que arrecadam, sem apresentar projetos sólidos para novos produtos ou iniciativas sustentáveis que garantam sua viabilidade futura", prosseguiu o comunicado, afirmando que a crise financeira dos Correios resulta da “nomeação de lideranças despreparadas, pautadas por critérios políticos e partidários em detrimento da qualificação técnica”.

A entidade alega que vem tentando marcar uma audiência com Santos para “conhecer a situação dos Correios, seu atual fluxo de caixa e as medidas em curso”.

Correios mantém gastos com patrocínios mesmo com situação crítica


Apesar dos prejuízos contantes, os Correios mantiveram gastos elevados com patrocínios, totalizando R$ 38,4 milhões no atual governo Lula DA SILVA (até a data da reportagem). Em 2023, foram R$ 3,3 milhões, incluindo R$ 400 mil para a apresentação dos bois Caprichoso e Garantido, no Festival de Parintins (AM), R$ 500 mil para a Orquestra Criança Cidadã (PE), e R$ 350 mil no Festival CoMA, em Brasília.

No ano passado, os valores aumentaram, incluindo R$ 6 milhões para o Lollapalooza e R$ 4 milhões para a turnê de Gilberto Gil e R$ 600 mil à 36ª Feira Internacional do Livro, em Bogotá (Colômbia).

Também foram fechados contratos de R$ 4,5 milhões com a Confederação Brasileira de Ginástica, R$ 3 milhões com os jogos universitários em todo o país e R$ 2 milhões com a feira de design Casa Brasil. A marca também foi exibida no Fun Festival, em Brasília, num contrato de R$ 1,9 milhão, e na festa de São João, no Maranhão, ao custo de R$ 1 milhão.

A estatal justificou, em nota, que os patrocínios se devem a “projetos planejados” em seus planos anuais de comunicação, que visam “posicionar os Correios como empresa concorrencial e sustentável, que possui importante papel de integração do Brasil e de inclusão de todos os brasileiros, por meio de sua ampla presença no território nacional e de seu amplo portfólio de produtos e serviços”.

Para este ano, não há previsão de mudanças na política de patrocínios. Em fevereiro, a estatal repassou R$ 1,3 milhão ao Encontro de Novos Prefeitos e Prefeitas 2025, organizados pela Presidência da República, com o presidente Lula. Para os Correios, o gasto é justificado “pela oportunidade de ampliação do alcance de seu público-alvo, ao mesmo tempo que fortalece sua imagem e relevância no cenário nacional”.

Correios rebatem críticas e culpam gestão anterior

 

Os Correios não comentaram sobre a possibilidade de CPI, mas negaram a situação de "pré-insolvência". Em nota, atribuíram o resultado de 2024 a um histórico de "sucateamento e enfraquecimento deliberado promovido pela gestão anterior, com vistas à sua privatização", citando redução de posta excessiva no mercado de remessas internacionais e falta de diversificação de negócios, o que aumentou a vulnerabilidade da empresa.”

Segundo a empresa, a atual gestão está comprometida com a recuperação financeira e institucional.

Os fatos, entretanto, mostram nuances. Os Correios foram lucrativos até 2012 (gestão Dilma), quando registraram o primeiro prejuízo desde o início do século. Em 2013, as perdas foram de R$ 213 milhões e, no ano seguinte, R$ 20 milhões. Os prejuízos disparam em 2015 e 2016, atingindo R$ 3,5 bilhões.  Eles foram influenciados por problemas de gestão, gastos com pessoal, congelamento de tarifas e pela mudança na contabilização das obrigações com planos de previdência privada.

Entre 2017 e 2021, a empresa registrou cinco anos consecutivos de lucro, somando quase R$ 4 bilhões. O maior resultado positivo na história foi alcançado no último ano: R$ 2,3 bilhões. Ocorreu em meio a um programa de demissão voluntária. Na época, eram 115 mil funcionários. Atualmente, são cerca de 88 mil, o que mantem a estatal como uma das que mais empregam.

Oposição intensifica pressão por CPI

 

A crise nos Correios intensificou a pressão da oposição por uma CPI para investigar má gestão e prejuízos. O senador Márcio Bittar (União Brasil-AC) protocolou um pedido em fevereiro e considera acionar o STF para garantir a instalação, diante de resistências no Senado. As maiores estariam no presidente da casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AM).

“Vamos apresentar um pedido de audiência pública para levar o atual presidente para explicar a situação ao Senado”, disse à Gazeta do Povo. “E se for o caso, em última análise, a gente vai ter que estudar fazer a mesma coisa que a turma da esquerda fez para instalar a CPI da Covid.”

Bittar destaca que a CPI pretende fazer uma auditoria nas contas da estatal e apurar irregularidades e suspeitas da administração de Fabiano dos Santos. Segundo o senador, os contribuintes e os funcionários dos Correios já têm arcado com os desmandos da administração petista. Ele lembra o prejuízo pela má gestão do Postalis, fundo de pensão, entre 2011 e 2016, no governo Dilma.

“Os funcionários também já estão tendo que pagar uma conta altíssima de um acordo feito dos R$ 15 bilhões de prejuízos do Postalis”, acrescentou o senador. “A metade vai cair nas costas dos funcionários ativos e inativos, a outra nas costas do contribuinte brasileiro de forma geral.”

No início do mês, o senador Marcos Pontes (PL-SP) também defendeu a instalação CPI, relatando atrasos graves a transportadoras terceirizadas, responsáveis por sustentar a espinha dorsal da distribuição postal. “Os Correios passaram a pagar parcialmente, 5%, 10%, até mesmo 1% dos valores devidos, sem explicações formais, sem cronograma de regularização, sem qualquer nota oficial ou transparência por parte da presidência da empresa.”

CPI anterior em governo Lula ajudou a revelar o mensalão

 

O senador acreano acredita que novas revelações surgirão com a auditoria nas contas da estatal. Em 2005, uma CPI dos Correios revelou o mensalão, um esquema de corrupção no governo Lula, onde partidos ocupavam cargos para extorquir empresas e influenciar votações no Congresso em troca de subornos, resultando na prisão de políticos, empresários e banqueiros.

Para Bittar, a apuração poderá esclarecer questões como a desistência da estatal em recorrer de uma ação trabalhista que custou R$ 614 milhões, e suspeitas de irregularidades em contratos publicitários.

Nesta quinta-feira (9), o ministro Jhonatan de Jesus, do TCU, determinou uma investigação sobre a licitação dos Correios para agências de publicidade, avaliada em R$ 380 milhões. A decisão atendeu uma denúncia do deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) e do estadual Leo Siqueira (Novo), de São Paulo.

“Uma empresa estatal e monopolista com sérios problemas como os Correios não deveria comprometer R$ 380 milhões com publicidade. Ainda mais sem transparência e critérios objetivos. Os Correios tiveram um prejuízo de R$ 424 milhões só em janeiro deste ano. Não faz sentido gastar praticamente o mesmo valor em publicidade. É dinheiro dos pagadores de impostos que deve ser respeitado”, afirmou Siqueira.