'Momento político no Brasil em que a neutralidade parece conivência', diz Prof. Israel
Deputado federal do PV-DF declara publicamente, pela primeira vez, que é gay e defende a bandeira dos direitos humanos contra a barbárie. Destaca "que o Brasil vai voltar aos trilhos da civilização, de respeito à diversidade e à pluraridade racial, ética, religiosa e sexual"
Publicado em: 11/10/2021 às 15h01Professor de história, criado em família evangélica, Israel Batista tornou-se deputado federal, eleito pelo PV do Distrito Federal, com a bandeira da educação. Mas percebeu no curso da trajetória política que o mandato deveria servir também a uma causa mais ampla: os direitos humanos. Nesta entrevista ao Correio, Professor Israel declara pela primeira vez, publicamente, que é gay. Falar abertamente sobre isso, como também fizeram o governador Eduardo Leite e o senador Fabiano Contarato, é estratégia importante para defender direitos conquistados pelos grupos LGBTQIA+ e outros num momento em que estão seriamente ameaçados.
“Há um momento político no Brasil em que a neutralidade pode parecer conivência. Não estamos nesse momento. Esse é um momento de combate, de dizer que nós não aceitamos que este país seja dominado pela barbárie”, revela.
Para ele, a orientação sexual não deveria ser uma questão, mas é. Portanto, falar é estar numa posição de alerta. “A gente não deveria ter que falar sobre isso, mas viver isso. Mas esse momento exige fala, posicionamento, postura. Exige que a gente tenha coragem de enfrentar esse estado de coisa que está se formando no Brasil”, diz.
Professor Israel está convencido de que hoje, “se fosse possível retirar direitos que foram conquistados nos últimos anos, o governo brasileiro o faria”. E que a estratégia melhor para lidar com isso é a educação, que sempre foi sua “trincheira”, e a articulação dos diversos grupos que defendem os direitos humanos.
“Não preciso ser mulher para defender os direitos das mulheres. Não preciso ser preto para defender uma pauta antirracista. Não preciso sofrer perseguição para exigir tolerância, respeito. E não precisaria nem ser gay para defender os direitos humanos, a comunidade LGBTQIA+, no país que mais mata gays na América.”
Segundo o parlamentar, a qualidade mais exigida dele, nesses três anos de mandato, foi a capacidade de articulação, de reunir forças, de organizar grupos. “Hoje, percebo que a minha maneira, muito particular, de fazer esse enfrentamento é muito efetiva. Trouxe sucesso em diversas pautas.”
Como exemplo, ele cita o impedimento de uma discussão infrutífera sobre escolas sem partido. “Isso não vai acontecer. Porque o que se pretende, com esse debate, é transformar a Comissão de Educação num circo, em um lugar onde não se debate alfabetização, crise de aprendizagem, evasão escolar.” Nessa entrevista, o professor fala também sobre o encontro que teve com o ex-presidente Lula, faz crítica ao governo Ibaneis e diz que a esquerda está desarticulada em Brasília.
Como está seu mandato?
Estamos muito focados na nossa pauta, lutando fortemente para enterrar a PEC 32 (reforma administrativa). É nossa ideia central. Na semana passada, o deputado Capitão Augusto (PL-SP), presidente da Frente de Segurança Pública, apareceu em um café da manhã e, na frente das câmeras, apertou a nossa mão. Usou até um termo tenso: “Olha, quero dizer que a bancada da bala fecha acordo com a frente Servir Brasil contra a PEC 32”. Agora vou ter de usar colete à prova de balas (risos).
O que significou esse gesto?
Para nós, era essencial. Desde o início do trabalho com a PEC 32, o objetivo era evitar uma ruptura entre as categorias do serviço público. E havia dois focos: o primeiro seria entre os servidores que poderiam ser classificados como carreiras típicas de Estado, e os servidores que não poderiam. Se houvesse essa ruptura, haveria um enfraquecimento. Teríamos uma elite do serviço público abandonando o servidor público mais numeroso.
Conseguimos evitar isso. O segundo foco era entre os servidores da área de segurança pública e os demais servidores. Se a Segurança soltasse a mão dos servidores comuns, a chance de a PEC passar seria muito maior. Então nós atraímos parlamentares da Segurança para a Frente Servir Brasil, criamos interlocução com a bancada da bala. E conseguimos trazer associações — PF, Polícia Civil — para dentro do Conselho Curador da Servir Brasil. Funcionou.