Sexta-feira, 29 de março de 2024

Vostok: lealdade ‘arrastou’ secretária de Reinaldo para esquema de propina no Governo

Segundo PF, chefe de gabinete foi indicada pelo governador para marcar encontros para entregar notas frias que esquentavam propina

Publicado em: 23/09/2020 às 07h25


Cristiane Andreia de Carvalho dos Santos Barbosa trabalha para Reinaldo Azambuja (PSDB) desde Brasília, quando ele era deputado federal, e virou chefe de gabinete quando o tucano assumiu o Governo de Mato Grosso do Sul, em 2015. Assim começou a saga que fez ‘Cris’, braço direito do político, ser indiciada aos 51 anos por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e por integrar organização criminosa, segundo a Polícia Federal.

A servidora que cuida da agenda oficial do governador de Mato Grosso do Sul, segundo o Inquérito Policial 4-2019-1, da Dicor/PF (Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal), cometeu os delitos porque teria tomado conhecimento e participado da negociata que trocou benefícios fiscais por propina para o grupo de Reinaldo.

Além disso, Cristiane foi flagrada em pelo menos 3 ocasiões no crime de ‘lavagem de dinheiro cometido de forma reiterada e por intermédio de organização criminosa’ ao tentar esconder fortuna que recebeu em espécie de José Rocardo Guitti Guimaro logo nos primeiros meses de Reinaldo Azambuja a frente do Governo de MS, em 2015.

Segundo o ‘Relatório Conclusivo de Polícia Judiciária’ que determinou o indiciamento de mais de 20 pessoas no Inquérito 1190, no STJ (Superior Tribunal de Justiça), os valores movimentados por ‘Cris’ em apenas 3 recebimentos em espécie totalizaram R$ 492.664,00.

Assim como Cristiane, Reinaldo Azambuja, parentes dele, políticos aliados, comerciantes e fazendeiros de Mato Grosso do Sul estão entre os indiciados após as investigações da Operação Vostok. De acordo com a Polícia Federal, a ‘organização criminosa’ seria comandada pelo governador de MS. Como o procedimento tramita sob sigilo, o STJ não se manifesta.

Lealdade e Confiança

Muito leal ao governador Reinaldo Azambuja’. Assim é descrita por servidores Cristiane Andreia. Como chefe de gabinete do governador sul-mato-grossense, é ela quem cuida da agenda do político e filtra todos os contatos do chefe do executivo em MS. ‘Cris’ o acompanha desde Brasília, quando atuou como secretária parlamentar.

Agora, mesmo indiciada pela Polícia Federal na Operação Vostok, segue nomeada na Governadoria. Questionado oficialmente pela reportagem em contatos documentados, o Governo do Estado de MS informou que ainda não há nenhum procedimento administrativo contra a servidora Cristiane Andréia de Carvalho Barbosa.

“O indiciamento não é prova da culpabilidade da conduta, cabendo ao Judiciário a manifestação a respeito do caso”, alega o Governo. A nota acrescenta, que Cristiane não será afastada “porque não há condenação e deverá ser respeitado o direito ao contraditório e à ampla defesa, para que o Judiciário possa decidir sobre a questão”.

Aimprensa também procurou Cristiane Andreia na sala da Governadoria onde cumpre expediente. Por telefone, foi informado que a servidora não se encontrava no gabinete e ela não retornou os contatos até o momento.

A relação de lealdade e confiança, segundo tucanos que frequentam a sede do Governo no Parque dos Poderes, teria sido a armadilha que arrastou Cris para a suposta organização criminosa indiciada por ter causado prejuízo milionário aos cofres públicos de Mato Grosso do Sul.


Rastro do dinheiro nos celulares


Mesmo assim, a servidora revelou à Polícia Federal ter visto Valdir Aparecido Boni, o diretor de tributos da JBS, por pelo menos quatro vezes no gabinete de Reinaldo Azambuja (PSDB), em pleno Parque dos Poderes.

Ela ainda admitiu que teria intermediado, por telefone, reuniões entre Reinaldo e os diretores da empresa. Do ramal fixo dela na Governadoria e do celular pessoal, foram descobertas 32 ligações para a secretária de Wesley Batista e também para Boni.

De acordo com o diretor de tributos da JBS, Reinaldo Azambuja apresentou Cristiane, informando que sempre que as ‘notas frias’ usadas para receber mais de R$ 67 milhões em propina da empresa estivessem prontas, seria ela quem entraria em contato.

Portanto, somente entre agosto e dezembro de 2016, Cristiane teria ligado cinco vezes para Boni, quando este veio de São Paulo ao gabinete de Reinaldo receber as notas frias em mãos.

Mediante acordo de colaboração, a secretária de Wesley Batista encaminhou ao STJ conversas de WhatsApp entre ela e Cristiane combinando as reuniões