Diretor da Neon: ''Os bancos se sentem incomodados conosco''
Fintech, que receberá investimentos de R$ 400 milhões, triplicou de tamanho nos últimos anos
Publicado em: 02/12/2019 às 07h26A fintech Neon ganhou recentemente reforço de caixa importante para manter a expansão de seus serviços financeiros, como conta digital e cartão de crédito. A rodada de investimento, liderada pelo fundo General Atlantic e Banco Votorantim, vai despejar R$ 400 milhões na operação. O montante possibilitará crescimento mais rápido do número de clientes, hoje de cerca de 2 milhões. O plano da fintech para 2020 é garantir, com a contratação de profissionais especializados, a estrutura tecnológica que permita aumentar em três vezes a base de usuários. Na primeira rodada, no ano passado, o aporte foi de R$ 72 milhões e teve a participação dos fundos Monashees, Omidyar Network, Propel, Quona e Mabi. “Nossa carteira de clientes tem triplicado de tamanho ano após ano e deve continuar neste ritmo”, diz Jean Sigrist, sócio e diretor da Neon. A seguir, trechos da entrevista.
A Neon recebeu recentemente uma das maiores rodadas de investimento do ano no Brasil. Como foi o processo de negociação com os investidores?
Esse é um processo praticamente recorrente porque as startups são de capital muito intensivo e, por isso, precisam, o tempo todo, falar com investidores e organizar sua operação para que atinjam o nível esperado de maturidade. Para nós, rodada é jornada, sempre estamos trabalhando nesse processo. Procuramos ser seletivos, com rodadas maiores e investidores que conhecem bem o negócio e que possam estar com a gente por mais tempo. Essa estratégia ajuda a consumir menos tempo. Quando falamos do relacionamento com investidores, isso passa pelo acesso a informações e pela participação na tomada de decisões.
No nosso modelo, optamos por menos acionistas, porém, mais relevantes. Gastamos menos tempo nos relacionando com cinco investidores do que se tivéssemos 15 investidores. A vantagem para quem opta por rodadas menores é que, entre uma rodada e outra, a empresa fica mais madura e consegue um valuation (avaliação do seu valor na tradução para o português) melhor. Mas, acho que não vale a pena ficar arbitrando a precificação futura. Com a escala que temos hoje, isso não faz sentido.
Como os recursos deverão ser usados?
Esse montante vai chegar de uma única vez. Vamos usar para ter mais gente, para oferecer mais produtos e mais tecnologia. A tecnologia por si só não quer dizer muita coisa. Mas, os processos fazem toda a diferença na operação.
O momento econômico do país influencia de que forma o ânimo dos investidores?
O processo de se aproximar de um novo investidor e construir uma relação de confiança é constante. Tem uma geração de capital no mundo como nunca houve no passado. Ao mesmo tempo, o mundo está operando na faixa de juros mais baixa da história. Capital é um bicho arredio e está sempre procurando um lugar para ser locado. O setor de tecnologia como um todo tende a atrair muito capital.
Quando trazemos essa realidade para o Brasil, vemos o setor bancário extremamente concentrado e o órgão regulador provocando o processo de desconcentração de um dos mais lucrativos mercados bancários do mundo. O capital, um ser curioso e dinâmico, está vendo, não só as oportunidades em tecnologia, isoladamente, mas em conjunto com o setor financeiro. Nessa área, o mercado brasileiro é mais concentrado que os outros, foi mais protegido que os outros, e agora as instituições estão ameaçadas pela quebra dessa realidade.
Que tipo de efeito gera essa concentração?
Durante décadas essa concentração foi importante para o Brasil. Nos últimos 20 anos, não foi preciso fazer nenhuma operação de resgate de bancos e o país passou bem pela crise de 2008. Mas, qual foi o efeito positivo para a população em um mercado onde o investidor do setor bancário não perde dinheiro? Obviamente que isso produz efeito, produz muita comodidade num mercado praticamente cativo. O desafio de encantar o cliente em um mercado cativo, como o de banco, saneamento, telecomunicações, é menor.
Essa regra não vale para uma fintech como a Neon. Todos os nossos produtos são desenvolvidos pelo cliente, que dá palpite o tempo todo. Construímos a relação com o cliente de forma contínua.