Festival de Cannes 2019: 'Bacurau', recebe 7 minutos de aplausos (assista ao trailer)
Novo filme do cineasta Kleber Mendonça Filho é um thriller que fala sobre resistência popular no sertão nordestino, com muitos aplausos
Publicado em: 19/05/2019 às 07h35Três anos depois de “Aquarius”, o pernambucano Kleber Mendonça Filho e a francesa Emilie Lesclaux, diretor e produtora, voltaram a passar pelo tapete vermelho de Cannes, desta vez sem cartazes de protesto, concorrendo à Palma de Ouro com um longa-metragem assinado em codireção por Juliano Dornelles: um longa que desafia todas as convenções de tensão dos thrillers já feitos na América Latina. “Bacurau” troca as reflexões sobre gentrificação de “O Som ao Redor” (2012) e do aclamado longa com Sonia Braga sobre um edifício do Recife por uma linha de suspense arrebatadora, que deixou a imprensa atônita.
Entre os jornalistas, os elogios começam a correr: “O filme tem uma atmosfera fascinante e joga com a dinâmica dos filmes de gênero sem ser óbvio”, elogiou o crítico espanhol Nando Salva Grimat ao fim da sessão para os jornalistas.
Havia muita gente bonita no festival, uma das mais conhecidas e admiradas é a modelo brasileira Alessandra Ambrósio, que chegou de vestido aberto nas costa em branco, e na segunda vez chega com um esvoaçante vestido vermelho, de deixar os fãs, mais uma vez surpresos e mais fiéis a sua musa.
REAÇÃO DO PÚBLICO
Risos nervosos, suspiros de assombro, torcidas apaixonadas e aplausos em um momento de virada marcaram a projeção para a imprensa da saga de uma cidade do Nordeste que, num futuro próximo, com drones em forma de disco voador, some do mapa depois da morte de uma ilustre moradora. O desempenho de Silvero Pereira, como um dos habitantes de maior fúria no local, infla a tela com urros, fúria e sangue, em uma narrativa com ecos de “Mad Max” e de Walter Hill (“Warriors – Os Selvagens da Noite”). Como o festival começou na terça, 14.05, é cedo para se falar em potenciais premiáveis, mas já um zumzumzum jurando que Kleber e Juliano apresentaram um material digno de um prêmio de direção.
“O filme se passa em Pernambuco, mas acabamos achando a locação, sem a gente perceber, no Rio Grande do Norte, na fronteira com a Paraíba, no sertão do Seridó. Foi uma viagem instrutiva não só para informar a gente sobre o visual e o clima do sertão, como uma sociedade, mas também por se encaixar com nossa bagagem do sertão através do fato de a gente ser do Nordeste e ter tantos amigos que vieram do Sertão. O sertão existe forte em quem é nordestino. Temos uma estrutura clássica de uma única rua”, disse Kleber, que trouxe Sonia Braga para o papel da médica Domingas e uma trupe ainda pouco conhecida para papéis essenciais à trama.
Wilson Rabelo é quem mais se destaca, no papel do professor das crianças de Bacurau: é ele quem se dá conta de que o lugarejo desapareceu da cartografia brasileira. Esse sumiço condiz com a chegada de um par de forasteiros de moto (Antonio Saboia e Karine Teles) e o início de uma onda de mortes ligada a um grupo de estrangeiros chefiados por Michael, papel do mítico ator e modelo alemão Udo Kier, num desempenho impecável. A relação do filme com o filão "nordestern", o cinema de cangaço, vem por uma frase que servia de lema aos clássicos de Glauber Rocha: “Mais fortes são os poderes do Povo”.
Em “Bacurau”, a frase não é dita, mas vivida, em um levante em prol da resistência contra a opressão, que traduz uma série de metáforas políticas. Não por acaso, a trilha sonora de Sérgio Ricardo para o cult “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” (1965), de Roberto Santos, considerada um hino de protesto, embala na feérica luta de um povoado contra predadores do exterior, que matam por prazer.