Polícia Federal prende Michel Temer e ex-ministro Moreira Franco (vídeo incluso)
Polícia Federal prende ex-presidente Michel Temer e ex-ministro Moreira Franco
Publicado em: 21/03/2019 às 13h29A força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro prendeu, na manhã desta quinta-feira (21), Michel Temer, ex-presidente da República. Os agentes localizaram o ex-ministro Moreira Franco, de Minas e Energia, no Aeroporto do Galeão, desembarcando de um voo de Brasília.
Os mandados foram expedidos pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio. Segundo informações da Agência Estado, desde quarta-feira (20), a Polícia Federal tentava rastrear e confirmar a localização de Temer, sem ter sucesso.
Temer foi encontrado em São Paulo, levado para o Aeroporto Internacional de Guarulhos e seguiu para o Rio de Janeiro, diferentemente dos demais réus da Lava Jato, que ficam e depõe em Curitiba.
Lava Jato
O ex-presidente responde a dez inquéritos. Um deles está com o juiz Marcelo Bretas e trata das denúncias do delator José Antunes Sobrinho, dono da Engevix. O empresário disse ter pago R$ 1 milhão em propina, a pedido do coronel João Baptista Lima Filho (amigo de Temer), do ex-ministro Moreira Franco e com o conhecimento do presidente para fechar um contrato em um projeto da usina de Angra 3.
O pagamento ilegal, de acordo com as investigações, ocorreu para que a Engevix tivesse sucesso em conseguir o contrato para a realizar do projeto. As obras da usina começaram há mais de 30 anos, foram interrompidas e retomadas durante o governo Lula. A previsão inicial era que fossem gastos R$ 10 bilhões com o projeto. No entanto, agora, depois de vários atrasos, a obra deve custar R$ 26 bilhões.
Segundo a Agência Estado, também embasam as prisões a delação do doleiro Lúcio Funaro. No ano passado, Funaro entregou à Procuradoria-Geral da República (PGR) informações complementares do seu acordo de colaboração premiada. Entre os documentos apresentados estão planilhas que, segundo o delator, revelam o caminho de parte dos R$ 10 milhões repassados pela Odebrecht ao MDB na campanha de 2014.
Após ser detido em casa, Temer foi levado à Polícia Federal no Aeroporto de Gaurulhos, onde passaria por exame de corpo de delito antes de embarcar em um voo para o Rio de Janeiro. Temer é o segundo ex-presidente do Brasil a ser preso. O primeiro foi Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que hoje cumpre pena em Curitiba.
Suspeitas recaem sobre Temer desde a época em que era presidente. Ele foi alvo de duas denúncias, que não foram levadas adiante, apesar de tentativas de deputados da oposição de autorizar as investigações.
Hoje, o ex-presidente responde a 10 inquéritos na Justiça. Cinco deles tramitavam no Supremo Tribunal Federal (STF), abertos quando ele era presidente da República, devido ao foro privilegiado. Esses cinco processos foram encaminhados à primeira instância depois que ele deixou o cargo.
Conversa com Joesley
Um dos escândalos que envolveram o presidente Temer e que o colocou sob risco de impeachment tinha relação com a gravação de uma conversa que ele teve com o executivo da JBS Joesley Batista.
Na conversa, Temer disse uma frase que se tornou notória: "Tem que manter isso, viu?". A frase foi dita quando os dois comentavam a proximidade de Batista com o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) e o pagamento de benesses do empresário ao principal responsável pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT).
Notas do MDB e de policiais
O partido de Michel Temer e Moreira Franco emitiu nota criticando a atuação da Justiça na prisão dos dois políticos. Diz o texto: "O MDB lamenta a postura açodada da Justiça à revelia do andamento de um inquérito em que foi demonstrado que não há irregularidade por parte do ex-presidente da República, Michel Temer e do ex-ministro Moreira Franco. O MDB espera que a Justiça restabeleça as liberdades individuais, a presunção de inocência, o direito ao contraditório e o direito de defesa".
A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) também se manifestou nas redes sociais acerca da prisão do ex-presidente Michel Temer. “Não existem privilegiados para os policiais federais. Nosso papel é fazer com que a lei seja aplicada de forma igualitária para todos. Essa é mais uma demonstração do profissionalismo e apartidarismo presente nos trabalhos conduzidos pela Polícia Federal."
A prisão do ex-presidente Michel Temer não causou surpresa ao entorno do presidente Jair Bolsonaro, mas criou o receio de que, ao ocorrer neste momento, possa impactar na tramitação da reforma previdenciária e do pacote anticrime, considerados prioridades da atual gestão.
Nas palavras de um assessor presidencial, a prisão era uma "questão de tempo", mas não favorece o Palácio do Planalto ao agravar o desgaste na relação entre o Judiciário e o Legislativo, que têm protagonizado uma queda de braço nas últimas semanas.
O temor é que a medida seja interpretada por líderes partidários como um ataque ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que teve o sogro, o ex-ministro da Secretaria-Geral Moreira Franco, também preso pela Polícia Federal.
Os mandados foram expedidos pelo juiz Marcelo Bretas, que já defendeu a atual gestão e compareceu à posse do presidente Jair Bolsonaro, e cumpridos no dia seguinte a um mal-estar público entre Maia e o ministro da Justiça, Sergio Moro, que havia pedido ao deputado federal celeridade na tramitação do pacote anticrime.
A preocupação é também de que iniciativas em retaliação ao Judiciário sejam desengavetadas pelo Legislativo, como os projetos que tratam de abuso de autoridade, ganhando prioridade na pauta de votação em relação a iniciativas de interesse do governo.
A estratégia defendida por auxiliares presidenciais, em caráter reservado, é de que o Palácio do Planalto tente se desvincular completamente do episódio, evitando que a equipe ministerial faça juízo de valor sobre a operação policial e a desassociando da pauta legislativa.
"Eu acho que não [atrapalha a pauta de votações]. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa", disse nesta quinta-feira (21.03) o presidente interino Hamilton Mourão.
Para um aliado de Bolsonaro, o ideal seria que o presidente fizesse ainda nesta quinta-feira (21) um movimento de aproximação a Maia, evitando que o episódio piore ainda mais a relação do parlamentar com o Executivo. Nos últimos dias, ele vinha criticando a articulação política do Palácio do Planalto.
Na quarta-feira (20), Maia desqualificou o projeto anticrime apresentado por Moro e disse que o texto é um "copia e cola" de proposta sobre o mesmo tema que foi apresentada no passado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.