Jornais americanos ligam desistência de Jean Wylliys ao caso Marielle
Jornais americanos ligam desistência de Jean Wylliys ao caso Marielle, devido a renúncia ao novo mandato
Publicado em: 26/01/2019 às 07h32A desistência do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) de assumir seu terceiro mandato na Câmara Federal repercutiu nos principais jornais dos Estados Unidos nesta quinta-feira (24), com destaque à ligação de Wyllys com a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), assassinada a tiros em 14 de março de 2018. Os jornais afirmam que o político do PSOL desistiu por "medo de ser assassinado". Ainda que não tenha provado esta ameaça a sua vida.
O The New York Times lembrou na noite desta quinta que Jean Wyllys foi repetidamente alvo de rumores falsos nas mídias sociais, acusando-o de promover pedofilia. O jornal também destaca levantamento do grupo de jornalismo investigativo Agência Pública que registrou mais de 70 ataques contra Jean Wyllys nos primeiros 10 dias de outubro.
O principal jornal dos Estados Unidos informa que Jean Wyllys será substituído por David Miranda, que é o marido do jornalista americano Glenn Greenwald. "Miranda twittou uma resposta a (o presidente Jair) Bolsonaro na quinta-feira: 'Verifique suas emoções. Um LGBT está saindo, mas outro está entrando', escreveu ele. 'Vejo você em Brasília'", destaca.
Por meio de matéria da agência The Associated Press, o jornal The Whashington Post reproduziu trechos da entrevista de Willys ao jornal Folha de São Paulo e destacou a impunidade no caso Marielle dizendo que "dez meses após o crime ninguém foi preso ou responsabilizado".
"Wyllys, que foi reeleito em outubro e deveria começar um terceiro mandato em fevereiro, disse que as ameaças de morte contra ele aumentaram significativamente desde que a vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, foi baleada e morta junto com seu motorista em março. Franco era amiga e aliada de Wyllys. Muitos na maior nação da América Latina viram Franco, que era negra, lésbica e entusiasta de uma das favelas mais violentas do Rio de Janeiro, como um símbolo de esperança por sua forte defesa dos direitos LGBT e crítica aberta à brutalidade policial nos bairros pobres. Sua morte levou a grandes protestos no Brasil e em vários países", diz um trecho da matéria.
O jornal também informa que "o posto de Wyllys será preenchido por David Miranda, que é ativista LGBT e vereador do Rio de Janeiro do mesmo Partido Socialista e Liberdade de esquerda", sem mencionar que Miranda é casado com o jornalista americano Glenn Greenwald.
"Wyllys chegou à fama após tornar um dos finalistas do reality show “Big Brother Brasil”, causando muita controvérsia em um país profundamente conservador como um participante abertamente gay. Ele combinou essa notoriedade com o ativismo político e em 2010 ganhou uma cadeira no Congresso Nacional.
Wyllys estava frequentemente em desacordo com Bolsonaro, um congressista com 28 anos de mandato com uma longa história de comentários homofóbicos, racistas e sexistas. Em seu confronto mais discutível, Wyllys cuspiu Bolsonaro no plenário da Câmara dos Deputados durante o processo de impeachment de 2016 da então presidente Dilma Rousseff", relembra.
Tanto The New York Times quanto The Whashington Post relembram que "Bolsonaro, um ex-capitão do Exército, durante sua votação pelo impeachment, homenageou o ex-coronel (Carlos Alberto Brilhante Ulstra) que torturou (Dilma) Rousseff quando ela foi presa como guerrilheira durante a ditadura", destaca o jornal.
O jornal também informa que muitos interpretaram as manifestações de Bolsonaro no Twitter como provocações após a divulgação pela Folha da desistência de Willys.
"Eles (os Tweets) incluíam ícones de uma mão dando um polegar para cima, uma bandeira brasileira e um ícone de um avião.
“Fake News!”, escreveu Bolsonaro, postando um tweet do jornal O Globo que enquadrava suas mensagens como comemorativas. “Eu estava me referindo à missão concluída, reuniões produtivas com chefes de estado e retorno ao país que amo.”, escreveu Bolsonaro.
O jornal americano conclui com trechos da entrevista de Wyllys para o jornal Folha de São Paulo dizendo que a decisão dele de desistir do mandato "não foi por causa da ascensão de Bolsonaro, mas sim pelo clima de retórica acalorada e intensificação da violência contra membros da comunidade LGBT após as campanhas do ano passado".
Wyllys disse que o ex-presidente uruguaio José Mujica, ao saber das ameaças de morte, lhe disse: “Tenha cuidado, cara. Mártires não são heróis. '” "É exatamente isso", disse Wyllys. "Eu não quero me sacrificar."