Mortes por covid-19 aumentam 872% entre jovens de 20 a 29 anos no BRASIL
Dados mostram que avanço da doença está descendo as faixas etárias, atingindo em cheio a cadeia de produção econômica
Publicado em: 11/04/2021 às 06h16Um novo boletim, divulgado no sábado (10.04), pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta que a covid-19 avançou rapidamente no Brasil entre janeiro e março deste ano e que a doença tem capacidade de mudar a configuração da população brasileira.
De acordo com o levantamento, no período, o número de casos aumentou 701,58%, e o de mortes saltou 468,57%. A gravidade da situação também fica evidente ao se analisar a densidade da população em geral. Dados do Portal da Transparência revelam que, pela primeira vez na história do país, a região Sudeste teve um mês de março com mais mortes que nascimentos.
O levantamento da Fiocruz revela que a covid-19 avança entre a população mais jovem. Entre a faixa etária de 30 a 39 anos, o número de casos aumentou 1.218,33%, e 1.217,95% entre quem tem de 40 a 49 anos. Entre quem tem de 20 a 29 anos, fase que abrange o final da adolescência até a fase de adulto jovem, a letalidade aumentou 872,73%.
Além de atingir em cheio a força de trabalho, a doença avança sobre a população em plena fase reprodutiva. As regiões Sul e Centro-Oeste vêem a piora rápida na situação da pandemia.
Recuo inédito
Pela primeira vez na história, a população brasileira começa a reduzir. A pandemia de covid-19 já provoca mais mortes que nascimentos em diversos estados.
No Sul do Brasil, dados da Associação Brasileira de Registradores de Pessoas Naturais (Arpen/Brasil), que reúne informações de todos os registros de nascimentos, óbitos e casamentos do país desde 2015, aponta que houve recuo na quantidade de habitantes. Até a última quinta-feira, foram 34.211 nascimentos na região, contra 34.459 óbitos registrados no sistema. Isso significa que os estados do Sul perderam 248 habitantes no mês de março deste ano.
O problema é muito mais grave se analisados os dados em geral. Em março do ano passado, nasceram 28.820 e outras 15.762 pessoas morreram. Com isso, a população do Sul aumentou em 13 mil pessoas em apenas um mês, e agora tem um recuo inédito.
Especialistas avaliam que esse movimento pode se repetir em todo o país tanto em março, abril e nos próximos meses. Se a pandemia continuar avançando, a população brasileira poderá sofrer um colapso histórico e reduzir de uma maneira que levaria décadas para recuperar, ou entrar em uma redução permanente, como ocorre no Japão.
A pandemia trouxe para o presente um fenômeno que estava previsto para começar em 2043, onde o Brasil teria 235 milhões de pessoas e começaria a registrar redução da população.
O presidente Jair Bolsonaro voltou a defender, no sábado (10.04), o que chama de tratamento precoce contra a covid-19 e chamou quem critica a medida de "canalha". No entanto, as medicações como cloroquina, ivermectina e nitazoxanida não possuem comprovação científica contra o vírus. A primeira, em março, teve o uso fortemente desaconselhado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A declaração do presidente ocorreu durante visita a uma família em São Sebastião, após ter sido questionado por uma das moradoras a respeito das ações do governo contra a pandemia.
"Tem muito médico que aplica o tratamento imediato, que é combatido por canalhas. Porque o canalha fala que não serve para nada, mas não aponta alternativa. Deixa o médico trabalhar. O médico tem liberdade para receitar o que ele achar que deve ser receitado com conhecimento e com concordância do paciente", disse.
Uso político da pandemia
O chefe do Executivo reconheceu que ainda não existe medicamento comprovado contra a doença, mas alegou que alguns, por experiência de médicos, têm demonstrado ser válidos.
“Nós sabemos que não tem nenhum remédio com comprovação científica ainda [de eficácia contra a covid-19]. Nenhum; mas tem alguns que a experiência, a observação por parte de médicos, tem demonstrado que é válido. Então deixe o médico em paz, deixe de agir como canalha.”
Bolsonaro aconselhou ainda a quem não tiver remédios opcionais para indicar contra a doença "calar a boca" e deixar o médico trabalhar com as receitas "off label". Ele voltou a citar como exemplo Chapecó (SC), onde esteve reunido no último dia 7 com o prefeito local, João Rodrigues (PSD). O mandatário elogiou Rodrigues por incentivar o uso do inexistente "tratamento precoce", o qual disse ter sido o responsável por diminuir casos na cidade. Porém, a cidade catarinense aderiu ao lockdown por 14 dias, além de adotar medidas de distanciamento social, uso de máscara e álcool em gel.
"Esse canalha; se ele não tem um remédio para indicar, cale a boca, deixe o médico fazer o papel dele que eu não sou médico, nem você. Deixa o médico trabalhar. Temos informações de municípios, como estive em Chapecó lá, do prefeito João Rodrigues. Estive lá. Ele faz o tratamento imediato, os médicos têm liberdade, não são perseguidos e o índice de pessoas que vão para o hospital cada vez menor", completou.
Por fim, afirmou novamente que Chapecó deve ser tomado como exemplo pelo resto do país e negou que as UTIS da cidade estejam cheias. Um boletim da Secretaria de Saúde municipal na semana passada mostrou que tanto os leitos de UTI público e privados estavam com 100% de ocupação.
"A imprensa mente quando diz que está tudo cheio lá em Chapecó. Não é verdade. O que está cheio são os hospitais que já existiam. Lá tem um centro de convenção que foi transformado em hospital está lá com dezenas de leitos pronto para receber possíveis paciente e está vazio. Então Chapecó, o João Rodrigues deu certo. Use isso no Brasil, deem liberdade para o seu médico trabalhar", concluiu.